ângela ferreira
performance na instalação especialmente criada para a exposição SAAL e que lida com a memória histórica e política de um dos momentos mais marcantes para a sociedade e para a arquitectura portuguesas.
foi novamente apresentada durante a inauguração da exposição
Fernanda Fragateiro e Ângela Ferreira da colecção
António Cachola no espaço
Chiado 8 em Lisboa.
performance during the opening of the exhibition
Fernanda Fragateiro e Ângela Ferreira of the collection António Cachola at Chiado 8 in Lisboa.
texto da performance:
Linhas de acção dos técnicos enquanto técnicos
Sobre o modo como a Brigada, enquanto grupo técnico, pretende operar no âmbito do actual
contexto político.
A Brigada não adopta posições simplistas: aprender com o povo ou ensinar o povo.
Ela intervém com a sua formação real, aceitando e criticando as circunstâncias desta
formação, e com foco total num objectivo: o controlo das zonas degradadas pelas populações
que nelas habitam, no sentido da sua apropriação e recuperação, controlo esse que, desde o
início, deve ser necessariamente alargado à própria cidade e além dela.
(A superação, pelas Associações, dos objectivos que deram directamente origem ao projecto
SAAL está estritamente ligado à dinâmica do processo revolucionário português, do qual é,
ao mesmo tempo, motor e reflexo.) A Brigada considera que a sua formação e as suas ideias,
dentro dos limites concretos da reconstrução do habitat, em dialéctica com as ideias atuais das
populações para as quais trabalha, estarão na base de um mundo físico criado para e por uma
sociedade que se deseja sem classes.
A Brigada recusa o caminho do mimetismo ou da ambiguidade, por ser restrito ou
demagógico.
A Brigada não considera nem admite que a urgência dos problemas constitua um limite à
qualidade e à poesia.
(Poesia entendida como total adesão e expressão do processo político em curso, em toda a sua
riqueza e complexidade riqueza e complexidade cujas raízes se encontram tão só num
movimento popular colectivo e irreversível.)
A Brigada procura não confundir objectivos e métodos. Ela estabelece, juntamente com a
associação de inquilinos, as prioridades para cada momento, corrigindo-as se necessário, e
adoptando uma posição de crítica permanente.
Nesta óptica, cada decisão deverá ser assumida como parte de um processo dinâmico, sendo
indispensável a adopção de uma metodologia adequada.
Ultrapassados os processos burocráticos e tecnocráticos, o conceito do projecto é diferente, e
nada deve ter a ver com a improvisação ou o cassetete.
O rigor não é um limite à dinâmica do processo.
O rigor deve estar estritamente ligado à possibilidade real de evolução, ao amadurecimento, à
capacidade de responder ao processo, e deve estar sempre presente.
O rigor deve ser directamente proporcional a esta capacidade de resposta.
O rigor não é um limite à imaginação.
O rigor não é um limite à criatividade colectiva.
O rigor é a capacidade de resposta a um processo dinâmico.
“A qualidade é o respeito pelo povo.”
(Che Guevara)
texto supostamente da autoria de Álvaro Siza Vieira mas assinado pela brigada do SAAL Porto.
sobre a instalação e a performance:
"A obra [...] foi
especificamente concebida para a exposição sobre o Serviço Ambulatório
de Apoio Local (SAAL) apresentada na Fundação de Serralves entre Outubro
de 2014 e Fevereiro de 2015. O SAAL foi um interessante projeto de
arquitectura participativa promovido entre 1974 e 1976 por iniciativa de
Nuno Portas. O objectivo era resolver as enormes carências
habitacionais dos meios urbanos colocando brigadas técnicas compostas
por arquitectos, engenheiros, assistentes sociais e juristas em contacto
com as populações dos bairros da lata e das “ilhas” e projectando com
elas os novos contextos habitacionais. Com uma referência explícita ao
projecto da Bouça de Álvaro Siza Vieira, a escultura é também o lugar
onde uma performance é realizada, da qual consta a leitura de um texto
publicado, à época, pela Brigada de São Victor, também liderada por
Siza. A colecção António Cachola possui um muito particular envolvimento
com esta obra, na medida em que aceitou produzi-la ainda antes de
existir um projecto, possibilitando assim à artista desenvolver o
trabalho nas condições pretendidas."
Delfim Sardo