Friday, November 6, 2015

554.

APELO À PARTICIPAÇÃO
para livro Performance Arte e Esfera Pública

Convite para artistas e investigadores interessados em enviar propostas artísticas ou ensaios sobre o tema performance arte e esfera pública para livro (em PT e em ENG) a publicar em 2017 pela editora Orfeu Negro.


Pode a Performance Arte construir, recriar e participar na esfera pública? De que forma pode ela repensar e reclamar outras formas de estar com o outro? Quais as implicações da sua institucionalização? Como podem os mundos criados pela Performance Arte reconfigurar as possibilidades políticas, éticas e estéticas do encontro com o outro e de acção no mundo? Estas são as inquietações de fundo deste livro.

Entende-se por Performance Arte o género artístico nascido no início do século XX com o futurismo italiano (Goldberg), intensificando-se e afirmando-se nos anos 60/70, especialmente nos EUA. Caracterizado por um conjunto de estratégias estéticas predominantemente auto-reflexivas, a Performance Arte desafia a relação com o espectador, os limites do objecto artístico e a própria ideia de artista, extremando a premissa modernista da fusão arte-vida. Esmorecida a sua função contestatária de origem patente em diversas disciplinas artísticas, a Performance Arte institucionaliza-se como género nas décadas de 80/90 (Féral). Actualmente, assistimos a novos modos de relação da artes efémeras com o museu (Lepecki, Heathfield), nomeadamente, através da curadoria e aquisição de obras performativas, da prática de reenactments ou da espectacularização do espaço e processo de trabalho. As gerações do teatro pós-dramático (Lhemman) assimilam, apropriam-se e reinventam as estratégias estéticas e políticas da Performance Arte, inclusive, em países onde ela se manifestou de forma descontínua, como em Portugal. Pensar a Performance Arte na contemporaneidade exige, assim, escutar os ecos da disseminação dessas estratégias por outros géneros artísticos que, porventura, a actualizam e redefinem.

Procura-se neste volume explorar as conexões e desconexões entre as estratégias artísticas e políticas da Performance Arte e a esfera pública, conceito histórica e culturalmente definido. Entende-se por esfera pública um espaço de confluência de discursos e forças ideológicas, afectivas e éticas que moldam a relação entre público e privado. Mais do que a possibilidade de chegar a um consenso (Habermas), interessa-nos considerar as práticas agónicas que definem a esfera pública (Mouffe) para repensar as formas de participação da Performance Arte na vida política, ética e afectiva bem como os contornos específicos dessa esfera que, por sua vez, se constitui enquanto performance (Cvejic). Os encontros promovidos pela Performance Arte criam mundos que interrogam, perturbam e complicam a esfera pública, tendo em conta a sua variação histórica, na medida em que o seu fazer é, por um lado, condicionado pelos discursos e ideologias que atravessam a esfera pública e, por outro, constitui uma força de acção e impacte nessa mesma esfera.
 
Impulsionadas pelas comemorações do centenário do Manifesto Futurista de Marinetti (2009), outras histórias da Performance Arte periféricas, desviadas e oriundas de contextos específicos têm proliferado. Em Portugal, a Performance irrompe de configurações sociopolíticas de mudança (instauração da República, Revolução dos Cravos, adesão à CE). A sua história vem sendo escrita segundo uma narrativa do intervalo, considerando-se episódica a sua manifestação nas diferentes artes (poesia, música, artes visuais, artes performativas). Este facto permite-nos, por um lado, equacionar a força mobilizadora da Performance na esfera pública dos diferentes momentos de emergência e, por outro lado, pensar a forma como cada campo artístico activa uma relação de participação específica. Neste sentido, este volume propõe-se contribuir para o projecto criador de E. Melo e Castro: escrever “o livro impossível que a(s)ideologia(s) e a história não nos sabem dar."

Este volume tem por objectivo oferecer um leque abrangente de perspectivas teóricas e artísticas num plano internacional sobre a relação entre Performance Arte e esfera pública, contribuindo para ao pensamento crítico sobre a Performance Arte e as artes performativas contemporânea e para diferentes modos de pensar retrospectivamente a Performance Arte portuguesa, assinalando o centenário da conferência futurista de Almada Negreiros, momento de referência para uma reflexão histórica (2017).

Convidam-se investigadores e artistas das áreas de estudos de performance, artes performativas, história, artes visuais, literatura, música, teoria dos afectos, novos materialismos, teoria política, estudos culturais, estudos feministas, estudos de género e queer, a enviar textos ou propostas artísticas que abordem um ou mais aspectos da relação entre Performance Arte e esfera pública, desenvolvendo pensamento em diálogo com casos específicos de práticas performativas contemporâneas portuguesas ou temáticas relevantes para as mesmas. Serão considerados temas como participação, institucionalização, performatividade, ideologia, arte e política, activismo, historicidade, afecto público, encontro, experiência. Alguns exemplos de  tópicos possíveis:


-           afecto público e esfera pública (condicionamento e potenciação de afectos como gestos políticos)
-           poder e performatividade da recepção crítica
-           performatividade (dos afectos, dos corpos, dos objectos ou do espaço em tensão na esfera pública)
-           arte, política e activismo
-           institucionalização da performance e contribuição da performance para novos pensamentos da instituição
-           a prática dos reenactments, recriações, reinterpretações
-           a Performance arte Ao museu (aquisições e curadoria, espectacularização do processo criativo, (re)produção e documentação de obras)
-           análises de performances artisticas ou da obra de artistas (música, poesia, artes visuais, artes performativas) destacando a relação com a esfera pública
-           as experiências vanguardistas portuguesas (relação com as vanguardas internacionais: influências, alinhamentos, isolamento, desvios, sintonia)
-           influências e sintonias com outros artistas e/ou modos de intervir sobre a esfera pública
-           repensar, reavaliar, reposicionar a história da Performance Arte portuguesa, os seus agentes e a sua produção


Especificações:
Ensaios: entre 4,000 e 6,000 palavras / 25,000 e 30,000 caracteres com espaços, em português e em inglês (máximo 2 imagens)
Documentos: enviar informação sobre direitos de autor dos documentos em causa
Páginas de artistas: máximo 2 imagens, preto e branco, 12,3 x 18 cm, 300 dpi

As sinopses que não devem exceder as 1200 palavras / 7500 caracteres.

Coordenação científica:
Ana Pais é investigadora de artes performativas, dramaturgista e curadora. É bolseira pós-doc da FCT no Centro de Estudos de Teatro da Universidade de Lisboa / McGill University onde desenvolve o projecto “Práticas de Sentir”.

Esta publicação surge no âmbito do Projecto P! – Performance arte hoje, coordenado por Ana Pais, Catarina Saraiva e Levina Valentim, com a colaboração do curador de música Pedro Rocha. Por esta razão, a selecção dos artigos será discutida colectivamente.

Calendário:
Propostas: 31 Dezembro 2015
Divulgação dos textos ou propostas seleccionados: 30 Janeiro 2015
Entrega de textos: 15 Maio 2016
Data de publicação: Abril 2017

Todas as propostas, candidaturas ou questões devem ser enviadas para performativa2017@gmail.com