Monday, June 15, 2020

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in memoriam
armando azevedo (1946-2020)

ARMANDO AZEVEDO (Vila Nova de Famalicão, 1946 – Coimbra, 14 Junho 2020).
Estudante de Direito da Universidade de Coimbra desde 1966, Armando Azevedo abandona o curso em 1970 para começa a frequentar o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra. O CAPC funciona como uma “sociedade artística” que não se reduz ao atelier, funcionando antes como verdadeiro laboratório criativo, onde se celebra a permeabilidade entre o espaço de experimentação e o de convívio. Primeiro como sócio, depois como professor (1976) e finalmente como director do CAPC, Armando Azevedo é o único elemento do Grupo Puzzle que aí permanece depois da Revolução de 1974. Com a saída de João Dixo, Albuquerque Mendes e Fernando Pinto Coelho para o Porto, surgiu a vontade de formar um grupo de trabalho independente, de forma a dar continuidade às experiências que se desenvolveram no contexto lúdico do CAPC e que depois de 1974 podiam extravasar para fora da escola. Entre 1973 e Dezembro de 1975 Armando Azevedo divide a actividade artística com o serviço militar. A sua saída do exército, em Dezembro de 1975, acelera a formação e definição do trabalho colectivo. Individual e colectivamente, interessou-lhe o ambiente experimental do espaço e do tempo, transformando-os em eventos e environments. Salienta-se no seu trabalho a anulação das fronteiras entre a forma e o conteúdo, entre os objectos impressos e o meio ambiente, entre os objectos quotidianos e os objectos de arte. No CAPC a sua primeira exposição individual apresenta Embalagens Brancas numa Embalagem Negra (1972). A estas monocromias seguem-se as entrópicas colagens das Cadeiras e Bancos (1976). Pornografia, política, religião, cinema, são temáticas que tratadas de uma forma livre, se definem num estado de desordem. A proliferação e sobreposição de imagens que passam a ocupar quotidianamente os media e o espaço urbano contaminam aos seus objectos artísticos. A silhueta de Armando Azevedo aparece colada nas paredes de Coimbra, num jogo de figura-fundo onde apropria a informação publicitária ao mesmo tempo que se deixa passivamente identificar por ela. Cartaz que nos conduz a Recordações (1977), exposição onde colecciona memórias vividas no presente. Estas recolhas e/ou apropriações terão um eco importante na performance do Grupo Puzzle. Colectivamente, organiza Nossa Coimbra Deles (1972), Prenda para Josefa de Óbidos (1972), 1.000.011º Aniversário da Arte (1974), Semana de Arte da (na) Rua (1976), entre outros projectos. Foram seus professores, no CAPC, João Dixo, Ângelo de Sousa e Alberto Carneiro. Ernesto de Sousa também organizou eventos no CAPC e convida os seus elementos para a exposição Alternativa Zero (1977). Em 1977 e na sequência do trabalho O Todo e as Partes (1977) preparado para a Alternativa Zero, Armando Azevedo funda com outros elementos do CAPC o Grupo de Intervenção do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra ou Grupo Cores (pertencem a este Grupo: São Pestana, Rui Órfão, Túlia Saldanha, António Barros e Teresa Loff). Pertence ao Grupo Puzzle desde a sua génese em 1976 até à ultima exposição em 1981. Não tendo uma formação artística académica, o trabalho colectivo que manteve com o Grupo Puzzle foi porventura o alicerce da sua obra individual que não mais deixou de desenvolver. Na obra do Puzzle, começa por utilizar as colagens que tornam a sua participação inconfundível, mas é também para algumas das pinturas do Grupo que pinta pela primeira vez. Entende o trabalho individual e colectivo como complementares. Participa individualmente em quase todas as exposições e eventos onde o Grupo Puzzle intervém. É talvez o elemento do Puzzle que mais acreditou no valor do trabalho colectivo, tal como o defendia o grupo e por isso mesmo, a sua voz salienta-se, nos poucos registos escritos que o Grupo Puzzle assinou.

Paula Parente Pinto