in memoriam
armando azevedo (1946-2020)
ARMANDO AZEVEDO (Vila Nova de Famalicão, 1946 – Coimbra, 14 Junho 2020).
Estudante de Direito da Universidade de Coimbra desde 1966, Armando
Azevedo abandona o curso em 1970 para começa a frequentar o Círculo de
Artes Plásticas de Coimbra. O CAPC funciona como uma “sociedade
artística” que não se reduz ao atelier, funcionando antes como
verdadeiro laboratório criativo, onde se celebra a permeabilidade entre o
espaço de experimentação e o de convívio. Primeiro como sócio, depois
como professor (1976) e finalmente como director do CAPC, Armando
Azevedo é o único elemento do Grupo Puzzle que aí permanece depois da
Revolução de 1974. Com a saída de João Dixo, Albuquerque Mendes e
Fernando Pinto Coelho para o Porto, surgiu a vontade de formar um grupo
de trabalho independente, de forma a dar continuidade às experiências
que se desenvolveram no contexto lúdico do CAPC e que depois de 1974
podiam extravasar para fora da escola. Entre 1973 e Dezembro de 1975
Armando Azevedo divide a actividade artística com o serviço militar. A
sua saída do exército, em Dezembro de 1975, acelera a formação e
definição do trabalho colectivo. Individual e colectivamente,
interessou-lhe o ambiente experimental do espaço e do tempo,
transformando-os em eventos e environments. Salienta-se no seu trabalho a
anulação das fronteiras entre a forma e o conteúdo, entre os objectos
impressos e o meio ambiente, entre os objectos quotidianos e os objectos
de arte. No CAPC a sua primeira exposição individual apresenta
Embalagens Brancas numa Embalagem Negra (1972). A estas monocromias
seguem-se as entrópicas colagens das Cadeiras e Bancos (1976).
Pornografia, política, religião, cinema, são temáticas que tratadas de
uma forma livre, se definem num estado de desordem. A proliferação e
sobreposição de imagens que passam a ocupar quotidianamente os media e o
espaço urbano contaminam aos seus objectos artísticos. A silhueta de
Armando Azevedo aparece colada nas paredes de Coimbra, num jogo de
figura-fundo onde apropria a informação publicitária ao mesmo tempo que
se deixa passivamente identificar por ela. Cartaz que nos conduz a
Recordações (1977), exposição onde colecciona memórias vividas no
presente. Estas recolhas e/ou apropriações terão um eco importante na
performance do Grupo Puzzle. Colectivamente, organiza Nossa Coimbra
Deles (1972), Prenda para Josefa de Óbidos (1972), 1.000.011º
Aniversário da Arte (1974), Semana de Arte da (na) Rua (1976), entre
outros projectos. Foram seus professores, no CAPC, João Dixo, Ângelo de
Sousa e Alberto Carneiro. Ernesto de Sousa também organizou eventos no
CAPC e convida os seus elementos para a exposição Alternativa Zero
(1977). Em 1977 e na sequência do trabalho O Todo e as Partes (1977)
preparado para a Alternativa Zero, Armando Azevedo funda com outros
elementos do CAPC o Grupo de Intervenção do Círculo de Artes Plásticas
de Coimbra ou Grupo Cores (pertencem a este Grupo: São Pestana, Rui
Órfão, Túlia Saldanha, António Barros e Teresa Loff). Pertence ao Grupo
Puzzle desde a sua génese em 1976 até à ultima exposição em 1981. Não
tendo uma formação artística académica, o trabalho colectivo que manteve
com o Grupo Puzzle foi porventura o alicerce da sua obra individual que
não mais deixou de desenvolver. Na obra do Puzzle, começa por utilizar
as colagens que tornam a sua participação inconfundível, mas é também
para algumas das pinturas do Grupo que pinta pela primeira vez. Entende o
trabalho individual e colectivo como complementares. Participa
individualmente em quase todas as exposições e eventos onde o Grupo
Puzzle intervém. É talvez o elemento do Puzzle que mais acreditou no
valor do trabalho colectivo, tal como o defendia o grupo e por isso
mesmo, a sua voz salienta-se, nos poucos registos escritos que o Grupo
Puzzle assinou.
Paula Parente Pinto