ana fonseca
PUT YOU THINKING HELMET ON#2 THE DUELS
Durante a minha vivência em Londres, uma cidade fascinante e ao mesmo tempo dura e impessoal dada a sua dimensão e dinâmica social, sentia que usava uma “armadura”, que apenas retirava quando de férias em Lisboa, onde tomava consciência do facto de sentir-me “mais leve”.
Ao retornar a Lisboa e depois de ter vivido oito anos em Londres, há sempre um tomar de consciência do passado e uma certa inadequação sobre a situação presente, um sentimento de “entre lugares” que cria ansiedade e deslocação. Como a ansiedade é inerente à condição humana, esta foi a razão da substituição do chapéu pelo elmo (mais bélico e intemporal). Resolvi então criar um conjunto de elmos para a minha vida quotidiana, gadgets que gostaria de ter sempre a mão para vencer os obstáculos diários (resolução de problemas; lidar com a vitória; ter ideias brilhantes; guardar segredos; coragem; liberdade).
Este projecto começou por ser apenas uma série de cinco desenhos. Após a conclusão, tomei consciência das suas potencialidades performativas. Por conseguinte, pensei em vencer um medo real: o público, tornando desta forma o performativo real.
Com esse fim, os elmos serão concretizados em metal e a performance série put your thinking helmet on será um duelo entre o “eu” e o “medo”.
Quando penso nos meus desenhos, imediatamente lembro-me de uma pintura neoclássica: O Juramento dos Horácios, por Jacques-Louis David, 1784. A relação com esta obra vai para além do mero facto de ela mostrar “elmos”, mas sim por ser um símbolo revolucionário, um símbolo de uma nova estética que rompe com as tradições barrocas e rococós, ligadas ao regime de monarquias totalitaristas e assume-se como estética de uma nova geração e regime. Os elmos são também símbolos de uma vontade pessoal de revolução interior. Resgatar a “guerreira”, romper com a apatia e resignação e avançar.
Revoluções e grandes mudanças a nível pessoal nunca são pacíficas, há sempre um período de sofrimento e adaptação. Muitas vezes as mudanças ocorrem por factos que nos motivam a sairmos da nossa “zona de conforto” e buscar novas soluções.
Voltando à nossa relação com os objectos, também os classificamos como “inofensivos” e “perigosos”. Para este projecto e tendo em conta o seu enquadramento num museu de artes decorativas e ainda pelo facto de ser uma “mulher artista” pensei em subverter o uso dado a um objecto considerado “inofensivo” e até fútil, de preferência e torná-lo nocivo ou por ventura até letal.
Por associação livre de ideias, cheguei à conclusão de que o objecto perfeito seria um leque. A minha explicação tem como base a sua morfologia que me lembra um cravo (símbolo revolucionário) e como objecto decorativo e ligado à burguesia (leques em marfim e com decorações barrocas), carrega assim uma carga simbólica ambígua. Para acentuar essa ambiguidade, o meu intuito é torná-lo numa arma (doméstico, feminino e letal). Durante a minha pesquisa sobre leques, deparei-me que há no Japão a tradição de lutas com leques, como forma de arte marcial.
Como estrutura da performance, tomei como ponto de partida os duelos de esgrima desportiva contemporâneos e irei criar uma coreografia que será uma fusão de esgrima com katá japonês.
Local da Performance: Fundação Ricardo Espírito Santo (Largo das Portas do Sol, 2 – Lisboa).
Data e Hora: Sexta-feira, dia 10 de Setembro, 19h00
Duração da performance: entre três a cinco minutos, o tempo
máximo em média de uma música pop.
Elementos visuais: dois intervenientes vestidos com fatos de esgrima.