Tuesday, September 14, 2010
228.
É QUE UM MUNDO TODO VIVO TEM A FORÇA DE UM INFERNO
Direcção Artística: Vera Sofia Mota
Performance: Isabel Simões
Criação: Vera Sofia Mota, Isabel Simões, Pedro Faria
Sexta-feira 17 Setembro às 21h30
Sábado 18 Setembro às 19h00
Duração: 40 min
Lotação por sessão: 25 pessoas
Obrigatória marcação prévia - avivaobst@marz.biz ou 218 464 446 (sujeito a confirmação)
MARZ - Galeria
Rua Reinaldo Ferreira 20-A
1700-323 Lisboa
Magia²
A ideia de performance implica sempre magia. Há uma acção (ou mais) que acontece e depois desaparece. A efemeridade, a duração que sabemos de antemão ser limitada, confere ao momento um encanto particular. A peça que agora se apresenta, nascida da vontade de explorar as imagens sobreviventes à Grécia Antiga, que duma forma mais marcada sugerem movimento , explora esse fascínio e inclui-nos nesse jogo. Aqui, o encanto do desaparecimento reaparece, criando uma interessante tensão que enquanto espectadores somos chamados a gerir.
A performer constrói com o seu corpo posições a cuja formação e “instalação” às vezes assistimos, outras com que nos deparamos. Se pensarmos nas tais imagens da Antiguidade, que duma forma mais ou menos presente povoam o nosso imaginário,podemos perceber que elas são o resultado dum problema: como representar o excesso, a euforia e, claro, o movimento dionisíaco através de figuras estáticas ? Deste dilema nascem representações que, embora incluídas numa lógica que globalmente valoriza a harmonia, nos apresentam desequilíbrios, torções e impossibilidades, sugerindo um vocabulário de movimento que dificilmente podemos reconstituir.
A peça É que um mundo todo vivo tem a força de um Inferno, sendo um exercício exploratório das possibilidades e impossibilidades desta reconstituição, afasta-se da tradição dos tableaux vivants, deixando cair a tónica na abordagem historicista e mimética para reequacionar os seus modelos. Aqui, como na Antiguidade, também há dualidade e complementaridade . Apenas uma artista se apresenta mas presente está também o colectivo: esta premissa é válida quanto à equipa autoral mas também no que toca aos elementos presentes na composição. São exempo disto as sombras criadas no espaço, que podem funcionar como metáforas mas são para além disso – e não esqueçamos que é uma pintora de formação quem dá corpo a este trabalho - figuras. As imagens que representaram ubris, o transe, o caos, são-nos entregues num ritmo apolíneo, sereno, duma forma disciplinada e precisa que se aproxima duma certa dimensão litúrgica que simultaneamente nos concede espaço e tempo para divagar.
O que a representação da libertação dionisíaca através do desenho ou da escultura implica e o que acontece quando essas mesmas figuras são assumidas por um corpo vivo diante de nós, interessou Isadora Duncan e Nijinsky (para citar apenas os exemplos mais evidentes ), que a partir dum imaginário semelhante criaram abordagens diversas. Inevitavelmente se depararam com binómios como movimento e imobilidade, contenção e expansão, bidimensionalidade e profundidade, tensão e relaxamento, equilíbrio e desequilíbrio. Nesta performance, a armadilha da reconstituição é convertida num despojado exercício de articulação de todas estas questões, combinadas de maneira a incluir, valorizar e acicatar a nossa percepção.
Por tudo isto, faz sentido falar em “elevar à potência” o carácter mágico da performance. Os componentes desta peça são eles próprios e ainda mais: tal como o movimento da artista, têm um potencial multiplicador, até estabilizarem em nós.
Magia s.f. 1. arte que pretende agir sobre a natureza e obter resultados contrários às suas leis, por meio de fórmulas ou de ritos mais ou menos secretos, quer utilizando propriedades da matéria que se afirma serem desconhecidas (magia branca),
quer fazendo intervir poderes demoníacos (magia negra); feitiçaria; bruxaria;
2. prática de fazer aparecer e desaparecer objectos através de truques; ilusionismo;
3. produção de efeitos extraordinários por meios artísticos; encanto; fascínio;
4. de forma inexplicável ou inesperada; misteriosamente.
Texto: Mariana Brandão