Monday, January 5, 2009

71.


como recordar o que nunca aconteceu
ana nobre . luís felício

Panteão Nacional, Lisboa
10 janeiro 2009 . 17H30 . Entrada Livre


Um verdadeiro acontecimento tem que ter também como fundamento
a possibilidade da sua impossibilidade: o seu desastre,
o seu presente absoluto e a sua perda irreparável para um sujeito.
A aceitação de que poderia não ter acontecido – para que aconteça.
Algo que nunca tenha acontecido não pertence nem à verdade nem à falsidade.
A memória regista apenas uma ínfima parte do que realmente
aconteceu, e guarda inevitavelmente essa parte como verdade do todo.
Se se quer recordar algo que nunca tenha acontecido tem que se entrar
no território da fábula, tem que se ficcionar, tem que se proceder à sua representação.
É esse impossível – que nunca aconteceu – que é toda a ficção absolutamente
necessária à vivência do presente, já que não há como garantir uma forma
de consciência que possa possuir absolutamente toda a realidade do vivido no presente.
Protegemos o que acontece – o nosso vivido – com a sua repetição.
Tornamo-nos imagem para que possamos ter o nosso presente,
para que sejamos capazes de ter palavras.

materiais:
Uma máquina de filmar digital mini-dv; uma máquina fotográfica digital; dois tripés;
um mapa da Grécia Antiga; o livro Hölderlin, Poemas, ed. Relógio D'Agua; uma carta do poeta
Frederich Hölderlin para o seu amigo, o filósofo Georg Hegel, de 10 de Julho de 1794;
a reprodução sonora da recitação de um poema de Hölderlin, Andenken, Recordação,
por Bruno Ganz (manipulada); a estrutura do Albergue da Liberdade,
de Pancho Guedes.


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